quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Caiacada Osório (Lagoa do Peixoto) à Tramandaí (Lagoa de Tramandaí) - 22/01/2011

Era para ser um final de semana de remada e acampamento, saindo no sábado pela manhã da Lagoa do Peixoto, em Osório, acampamento nas proximidades da Lagoa dos Passos, passando por Imbé e Tramandaí no dia seguinte e finalizando na Lagoa da Custódia, em Nova Tramandaí. Previsão de, aproximadamente, 60 Km de remada nos dois dias.
Em um dos e-mails trocados entre os participantes, Marcio alertou para que não esquecessemos o protetor solar, pois a previsão era de muito calor... Pior que era mesmo essa a previsão, mas numa dessas viradas de tempo inesperadas, o sábado começou com chuvinha fraca em Porto Alegre, de onde Leonardo e eu saímos bem cedinho para chegar em Osório às 7h.
Nos 100 km que separam Porto Alegre de Osório, o predomínio foi de muitas nuvens e chuvisco com algumas chuvinhas mais forte, de vez em quando. O sol bem que tentou aparecer, mas foi impedido pelas nuvens.
Chegamos em Osório para encontrar os companheiros de remada Marcio e Otávio, de Osório, Fabiano, de Porto Alegre e Leonardo Maciel, de Santo Antonio da Patrulha, com um chuvisqueirinho muito fraco, que chegou a parar em alguns momentos. Os morros próximos estavam cobertos pelas nuvens escuras e carregadas de chuva. Mesmo assim, começamos a programada remada comentando entre a gente que era melhor remar assim do que com o sol a pino e lamentando a ausência do Germano, que não pôde participar desta caiacada.
Logo na saída, no canal que liga as Lagoas do Peixoto e da Pinguela, o chuvisqueiro foi companhia constante, diminuindo um pouco no final e retornando com força total após uma breve parada, antes de entrarmos na Lagoa do Palmital.

Ainda na Lagoa do Peixoto, rumo ao canal.

Pingos durante a travessia pelo canal.

Leonardo esperando os intrépidos remadores para filmá-los.

Espantalho para peixe???
Caiaquistas na Lagoa da Pinguela e morros cobertos pelas nuvens.
Biguás, frequentes companheiros nas remadas.
Do lado esquerdo, a Lagoa da Pinguela. Do lado direito, a Lagoa do Palmital.
Paramos na mesma ponta de areia onde havíamos parado quando passamos por ali em novembro e que, de certa forma "divide" as Lagoas da Pinguela e do Palmital. Com exceção do Leonardo Maciel, todos fizeram um lanchinho rápido. Leonardo e eu terminamos a melancia, que havíamos trazido, picada em um potinho de sorvete. Apressamos o pit-stop devido as nuvens ameaçadoras e os pingos grossos que começavam a cair.
Aqui, o grupo se separou. Leonardo e eu seguimos costeando a margem sul da Lagoa do Palmital, enquanto Leonardo Maciel procurou a costa oposta para se proteger do vento e encurtar o caminho, assim como Fabiano, Marcio e Otávio, que demoraram um pouco mais para voltar para a água.

Biguás e ondulações.
Casarões da Lagoa do Palmital.
Na verdade, quem costeou mesmo a Lagoa do Palmital foi o Leonardo. Eu bem que tentei, mas não consegui acompanhá-lo bem de perto e acabei remando um pouco mais longe da costa. Por causa das ondinhas, não conseguia alcançá-lo, até que ele "perdeu" um pouco mais de tempo fotografando e finalmente, encostei no ilegal. Comentei sobre a minha dificuldade de manter a mesma direção para acompanhá-lo e que, por outro lado, não me importava de costear bem de pertinho, já que toda aquela costa da Lagoa estava tomada por casarões/mansões.
Seguimos juntos a partir dali, mas não por muito tempo, pois em seguida voltei a perder contato, remando mais para a esquerda. Bem longe, na costa oposta, conseguia ver uns pontinhos remando, mas não consegui identificar quem era.
Depois de muitas ondas, chuva e vento, Leonardo e eu nos reencontramos novamente, minha lombriga, a Anaconda, vinha reclamando há algum tempinho então, fiz um rápido lanche dentro do caiaque mesmo (pão com mel, manteiga e chuva) e seguimos no meio dos juncos a procura do canal que liga a Lagoa das Malvas e a Lagoa dos Passos.
Marcio, entrou em contato com Leonardo através do rádio para avisar que nos esperariam no canal.
Após uma cansativa jornada no meio de uma floresta de juncos, finalmente encontramos o canal e os demais remadores, já em terra firme.
Leonardo e eu nos reencontrando na Lagoa do Palmital, abaixo d'água!

Leonardo, um biguá e muitos juncos!
Muitos juncos!
Almoço no canal.
Flores.
Mais flores.
Leonardo e eu elaboramos um cardápio para o final de semana. Preparamos café para tomar na estrada (café com leite, pão com mel e manteiga, e bolo). Para o almoço de sábado fizemos pastel de carne, queijo e queijo com milho). Para a janta, o pessoal combinou churrasco, como sou vegetariana, preparei pão com alho. O café de domingo seria bisnaguinhas e café com leite, e o almoço seria em Tramandaí, em algum restaurante ou quisque próximo da praia, ou o bom e velho e miojinho.
Seguindo a orientação do cardápio, na parada do almoço comemos os pastéis e o bolo de sobremesa.
Voltamos para a água sem chuva e o sol dando o ar da sua graça na forma de mormaço! O dia clareou, mas continuava carregado com nuvens pesadas.
Nosso destino era a Lagoa do Passo e a ponte da Estrada do Mar que passa sobre o Rio Tramandaí. Fiquei curiosa para saber o nome daquele canal por onde estávamos remando. Quase no fim dele, passamos por pescadores em um barquinho parado na margem e perguntei qual o nome daquele canal. O senhor mais velho respondeu "rio, riozinho", com um tom de "é óbvio!". "Não tem nome?", perguntei, e sacudiram a cabeça negativamente. Agradeci e segui o meu caminho pelo riozinho.
Em seguida, entramos na Lagoa do Passo e avistamos a ponte. O sol, clarão ou mormaço foi-se embora, o tempo estava se armando, "com unhas e dentes".

Remando na Lagoa do Passo.
Nuvens à vista!
Ponte à vista!
Leonardo chamou o Marcio pelo rádio para avisar que passaríamos a ponte da Estrada do Mar e os esperaríamos na segunda ponte, a ponte mais antiga.
Leonardo e eu encostamos os caiaques numa rampa para esperar os colegas. Logo chegou Leonardo Maciel e os primeiros pingos de chuva. Fabiano, Marcio e Otávio, já debaixo d'água, chegaram em seguida.
A ideia original era acampar por ali, mas ninguém simpatizou com o local tomado por pescadores, carros, casas e um que outro bar, enfim, muito movimento.
Tínhamos quatro opções: 1 - acampar ali mesmo; 2 - dar a remada por encerrada, já que a chuva que vinha parecia vir para ficar; 3 - seguir a remada até encontrar um lugar para acampar e 4 - seguir remando até Tramandaí, já que era cedo, em torno de 15h.
Por unanimidade, decidimos seguir até Tramandaí e, se encontrassemos um lugar legal para acampar, acamparíamos.
Leonardo Maciel
Marcio e Otávio chegando junto com Fabiano.
Leonardo fotografando o Biguá Albino.
Fabiano
A chuva tomou a mesma decisão e seguiu rio abaixo conosco. Eu nunca havia remada com chuva antes, estava com um pouco de medo de raios, fora isso, acho que no verão é bem melhor remar com chuva. O lado negativo é que entra muita água no caiaque. A minha saia formava várias lagoinhas, que tentava, inútilmente, esvaziar o tempo todo, e mesmo no verão, o frio aparece. O Fabiano teve que fazer uma parada para tomar um remédio. Eu optei por não descer, nem parar e deixei a correnteza ir levando o Quindim Precioso, dando algumas remadas, de vez em quando, pois preferi não passar frio a esticar o esqueleto.
Como estávamos remando "rio abaixo" e acho que, involuntariamente, o ritmo também estava um pouco forte para nos mantermos aquecidos, não demoramos para chegar na civilização. A quantidade de mansões de veraneio em Imbé era impressionante! Muitas delas estavam dando festas naquela hora, provavelmente, estavam imendando o almoço com o lanche da tarde. Todas as casas com seu pier particular e muitos jet-skis e lanchas desfilando e passando pertinho da gente, sem diminuir a velocidade e formando ondulações.
Aquilo foi me irritando de um jeito, que só pensava em desaparecer daquele ambiente.
Paramos numa margem com um belo campo, que estava a venda, do lado oposto aos casarões, mas bem pertinho, bem na frente deles. Conversamos se acamparíamos ali ou não. Leonardo Maciel já havia decidido ir embora, chamaria seu pai para buscá-lo.
Estávamos muito perto da civilização, o barulho e agitação das embarcações de luxo era muito desagradável e eu, já um tanto irritada com aquilo tudo, bati pé que não acamparia ali. Deixei clara a minha opção por seguirmos até Tramandaí e darmos por encerrada a remada.
Acho que os guris até acampariam por ali, mas com todos os argumentos que surgiram e a carona do pai do Leonardo Maciel para buscar os carros em Osório, decidiu-se seguir até Tramandaí e abortar a Remada Lacustre.



Chuva!
Fabiano tentando se proteger da chuva.
Uma ilha no canal, um caiaque para cada lado.
Civilização à vista.
Da última parada até o final, o cansaço bateu definitivamente. O desfile das embarcações continuou. Consegui ver a cabeça de uma tartaruga para fora da água, antes dela mergulhar rapidamente. Fiquei pensando como ela conseguia ficar por ali com todo aquele trânsito de embarcações em alta velocidade, largando óleo na água e perturbando a tranquilidade dos verdadeiros donos daquele canal. Impressiona, que não exista um controle, um policiamento. Será que todos que andavam de um lado para outro do canal possuíam autorização para pilotar? E se tinham, teriam alguma noção de segurança para andar na água?
Chegando na Lagoa de Tramandaí a minha tensão diminuiu um pouco e passei a me impressionar com a cidade de Tramandaí. Uma cidade enorme, com prédios enormes e tão movimentada quanto Porto Alegre. Há muito tempo que eu não passava lá. Como as pessoas conseguem descansar ali?
Ponte da Sardinha à vista!
Aportamos na prainha ao lado da famosa ponte da Sardinha, do lado de Imbé. A ponte, que divide Imbé e Tramandaí, é famosa e está sempre atrolhada de gente, inverno e verão, disputando um lugar para jogar o anzol, mas o nome eu não conhecia. Fiquei sabendo através de um rapaz que chegou para conversar sobre os caiaques. Parece que o o peixe que mais se pesca ali é a sardinha, por isso o nome.
Quando estava chegando com o caiaque fui recepcionada por um simpático cachorrinho que brincava com todos e não era de ninguém, apesar da coleira no pescoço. Imagino que ele deva morar perto, pois não parecia perdido.
Chegada.
Cãozinho smpático.
Leonardo chegando na prainha da ponte da Sardinha.
Carro do Leonardo Maciel, lotado de remadores, atravessando a ponte rumo à Osório.
Otávio e eu ficamos cuidando das tralhas e dos caiaques enquanto os demais pegaram carona com Leonardo Maciel e seu pai, até Osório, onde ficaram os carros. A chuva tinha parado, mas nuvens baixas e escuras davam a impressão de que poderia voltar a qualquer momento. Torcíamos para que o pessoal voltasse o quanto antes, pois o cansaço, a fome e a total ausência de vontade de tomar outro banho de chuva tomaram conta de nós.
Otávio e eu conversamos bastante, eu fiquei observando as garças tentando roubar um pedaço de peixe ou camarão recém pescados nos baldes dos pescadores e torcendo para que elas conseguissem. O cachorrinho simpático se transformou num guardião e não deixou que elas sequer pousassem na areia, correndo de um lado ao outro cada vez que uma delas tentava chegar perto. Também observei as pessoas, aquele monte de gente pendurada na ponte, um congestionamento de anzóis, ou na beira da praia com anzóis e redes, tentando pegar as pobres sardinhas ou camarões. Mas o que mais vinha nas redes eram os sirizinhos, que ficavam presos e tinham que correr por entre vários pés humanos para chegar até a água novamente. Isso quando não eram ajudados com um chute ou alguém aprendendo a agarrá-los, demonstrando coragem e agilidade pegando-os por trás para que as garras dos siris não pegassem seus dedos.
Outra coisa que fiquei matutando nos meus momentos de espera, foi o movimento em Imbé e Tramandaí. Congestionamento de carros e pessoas, já que para andar nas calçadas deve-se desviar umas das outras. Concluí que as filas e congestionamentos também tiram férias e vão para a praia.
Dá para ter uma ideia do tanto de tempo que tive para filosofar, né?
Quando, finalmente eles chegaram, a primeira coisa que perguntaram foi: "demoramos?". Eu respondi que para nós, Otávio e eu, pareceu uma eternidade! Bem que o Leonardo perguntou se eu não queria buscar o carro, mas preferi ficar ali observando os animais humanos e não-humanos. Até um cochilo eu consegui tirar.
Arrumamos os caiaques em cima dos carros e cada um seguiu o seu destino. Marcio e Otávio seguiram para Osório. Fabiano foi para a praia de Santa Terezinha onde estavam a esposa e filhas e Leonardo e eu fomos para a praia de Rondinha, na casa dos pais dele. Todos cansados, molhados, um pouco frustrados pelo acampamento não ter acontecido, mas acredito, que todos satisfeitos com mais um belo dia de remada. Belo, não no sentido de ser um lindo dia de sol, mas foi uma bela remada, com velhos e novos companheiros e se não fosse a chuva, dificilmente teríamos conseguido remar os 45 Km marcados no GPS do Leonardo.
Garças disputando comida.
Final de tarde na barra do Rio Tramandaí.


Com exceção da primeira foto desta postagem, todas as outras foram tiradas com a maquineta à prova d'água, que embaçou e deixou as fotos assim, meio...embaçadas!