segunda-feira, 8 de junho de 2009

Realizando um sonho

Domingo, 7 de junho.
Acordei cedinho para alimentar a bicharada. Normalmente, seria difícil sair da cama num dia frio e, ainda por cima, acordar tão cedo num domingo mas a ansiedade não me deixaria dormir por mais tempo. Ao mesmo tempo em que estava louca para chegar no GPA (Clube de Regatas Guaíba-Porto Alegre), estava com medo, imaginando o que viria pela frente.
Nos meus 15 anos, fiquei um bom tempo indecisa sobre o que pedir de aniversário: uma bateria, uma viagem, uma motinho (Mobilete) ou um caiaque? Escolhi a Mobilete e nunca mais surgiu uma oportunidade de andar em um caiaque.
Eis que, anos depois (não interessa quantos...), recebo um convite para tomar café numa ilha do Guaíba sendo que o único acesso até lá, é por água.
Até então, não estava entendendo direito o que era o programa. Fiz um pão e uma cuca para colaborar com o café, levei algumas peças de roupa a mais, crente que cairia na água, mas não sabia como seria a minha primeira vez num caiaque.
O dia parecia querer colaborar, o frio seco e com poucas nuvens, um típico domingo de outono convidava para uma aventura na água... hay que ser otimista! Chegamos no GPA às 7h30, no exato momento em que saía uma embarcação para a ilha. A embarcação era uma daquelas com vários remadores num barco só (linguagem de leigo...)
Ao receber o convite para "caiacar" me falaram o seguinte:"pedi um caiaque bem instável que é para ver se tu é boa de equilíbrio e perder o medo logo" Isso explica o porquê da minha ansiedade e, qual não foi o meu alívio quando descobri que eu ia num caiaque duplo com um motorista/professor, o André, que também era o anfitrião e foi quem me passou as primeiras orientações sobre como "pilotar" e se equilibrar em um caiaque. Sentei sem maiores problemas, apesar de não desgrudar a mão da rampa, e as primeiras braçadas também não foram tão problemáticas. O mais difícil foi sincronizar minhas remadas com as do experiente professor André.
Depois de nós, sairam o André Issi, o Leonardo e o Germano.

Últimos preparativos. Foto: Leonardo Esch

Meu "professor" e motorista, André, explicando como eu deveria proceder. Foto: André Issi

Como segurar o remo. Detalhe da minha mão agarrada na tábua. Foto: André Issi

Mais explicações e meus dedos continuavam"cravados" na madeira. Foto: André Issi

Uma nuvem enorme que tomou conta da manhã por um bom tempo. Foto:André Issi

Uma das muitas ilhas que servem de abrigo para as garças. Foto: André Issi

Fiquei em êxtase remando pelo Guaíba, passando pelas ilhas que abrigam garças e outros pássaros. A sensação de estar no meio daquela água toda é muito legal!
Não levamos meia hora para chegar na tal ilha onde seria o café. A maior surpresa da manhã, para mim, não foi eu não ter caído na água e sim, a faixa etária dos remadores daquele barco que saía do GPA quando cheguei.
São senhores de 65, 75 anos e até mais, e são eles que levam os apetrechos para o café: chaleiras, canecas, talheres e cada um leva um prato (pão, bolo, cuca, bolachas...) e assim acontece o café na ilha, todos os domingos. Eles saem do GPA às 7hs e ficam na ilha até às 9hs.
Chegamos na sede do GPA com o céu limpo mas, em seguida, uma nuvem enorme cobriu o céu, deixando o dia frio, quase toda a manhã. Tive que tirar o tênis para descer do meu caiaque duplo. Ai, que frio! O André me largou ali na ilha e foi atrás do Issi, Leonardo e Geraldo para mostrar o caminho a eles. Assim que desci, um veterano do Júpiter veio até mim e sugeriu que eu sentasse na tal embarcação pra secar meus pés. Apesar de ter pensado, no sábado em levar uma toalha, não levei, "sisquici!". Sentei no barco que ficava com parte dentro d'água e fiquei admirada com a quantidade de lambaris na beira da água. Em seguida, veio um dos remadores com 2 sacolas cheias de pão para dar aos peixinhos e eu ganhei dois cacetinhos para fazer o mesmo. Enquanto saciava a fome da lambarizada, o senhor que me recebeu na chegada voltou com 3 folhas de jornal para eu secar meus pés. Sequei, coloquei as meias e o tênis e pisei em terra firme. Logo chegou o resto do grupo e fomos tomar café e, só aí entendi melhor o "evento".

A prainha da ilha do GPA onde é o encontro. Foto: Leonardo Esch

Café de chaleira feito pelos remadores do Júpiter. Foto: Leonardo Esch

Bate-papo, café de chaleira com leite condensado e quitutes. Foto: Leonardo EschEste senhor de abrigo azul e chapéuzinho branco, que esqueci de perguntar o nome, tem 75 anos! Foto: André Issi

Foto: André Issi

"Na bela manhã de domingo de 10 de maio de 1936 foi formada na garagem do Club de Regatas Guahyba a guarnição de veteranos do Gig a seis "Júpiter". Seus idealizadores tinham por mira a prática do remo como esporte de recreação, para a manutenção do vigor físico e da jovialidade de espírito através do sadio companheirismo em íntimo contato com a natureza. Desde então, invariavelmente todos os domingos, seja inverno ou verão, os seis velhinhos saem. O roteiro usual vai da rampa do GPA até sua sede da Ilha do Oliveira. São levados no barco, em uma caixa, os apetrechos necessários para preparar o café. Na ilha, os remadores cortam a lenha, juntam gravetos e acendem o fogo para preparar o café-de-chaleira. Tudo pronto, a conversa corre rápida e desenvolta. Tudo é lembrado e há sempre um caso novo que alguém sabe e os outros desconhecem. No fundo de todas as conversas, o profundo amor pelo Guaíba."
Fonte: www.gpa1888.com.br

O Clube de Regatas Guaíba-Porto Alegre, o GPA, é o clube de remo mais antigo do Brasil e há mais de 70 anos utilizada o barco Júpiter, um Gig a 6 remadores, para o café dominical na ilha do clube, a 3 Km da sede.


Os veteranos do GPA voltando para a sede do clube no Júpiter. Foto: André Issi

Após a partida dos veteranos no Júpiter, ainda ficamos um bom tempo na ilha conversando. O sol voltou a aparecer timidamente. Ainda bem, pois eu já estava começando a bater queixo. A volta para a sede foi perfeita! O pessoal resolveu dar a volta na ilha e fizemos muitas paradas, principalmente, os dois Andrés e eu. O André Issi fotografava tudo e escolhia alguns lugares para eu e o André posar para as fotos.
Um navio e um rebocador passaram do nosso lado. Chegou a me dar um frio na barriga mas até que não levantaram muita marola.
O Leonardo já havia chegado na sede e estava filmando de lá quando o Issi teve a brilhante ideia de tirar uma foto com a ponte móvel de fundo. André e eu fomos na frente e passamos por baixo da ponte. Nossa! O barulho dos carros e caminhões passando na ponte é assustador! Mesmo assim, adorei passar embaixo da ponte! Lembrei da pedalada para Guaíba e das fotos que tirei em cima. Agora, uma foto embaixo dela, num caiaque. Beleza! Mais uma indiada inesquecível! Obrigada Leonardo e André, pelo convite e paciência!
Eu, encolhida de frio. Foto: Leonardo Esch

Foto: André Issi

Foto: Andre Issi



Nós e a bóia. Foto: André Issi

Achei que o Issi estivesse testando a máquina.

Leonardo filmando nossa chegada, clicado pelo André Issi

Foto histórica: a primeira vez a gente nunca esquece. Foto: André Issi

3 comentários:

  1. Tiane, fiquei arrepidada de frio só de olhar as fotos. Eta, pessoa corajosa!
    beijos

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  2. Mazááá!!! Vê só, mal foi a primeira vez e já era a mais charmosa canoísta do passeio!!!

    Agora já pode pensar na próxima...

    Beijo!

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  3. Muito bom te conhecer. Melhor de tudo foi ter partilhado tão bons momentos junto a natureza ao lado de Porto Alegre. Um show!
    Bjão

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