Era a primeira vez que entrávamos na casa para ficar mais tempo, desde março, quando adquirimos o imóvel. Levamos muitas coisas para a casa, como vassoura e produtos de limpeza e fizemos uma rápida faxina. A casa precisa de muitos reparos para se tornar habitável e, por isso fomos preparados para dormir na barraca.
Havia chovido um pouco no dia e a mosquitama estava ouriçada! Era picada o tempo todo, mesmo com repelente! Impossível dormir na casa, pois as janelas não fecham, quanto mais, ter telas contra mosquitos.
Mas a nossa alegria por estar mexendo na casa pela primeira vez era tanta, que nem os mosquitos tiraram nossa empolgação!
Mas a nossa alegria por estar mexendo na casa pela primeira vez era tanta, que nem os mosquitos tiraram nossa empolgação!
Final de tarde, não aguentava de empolgação! Tive que compartilhar minha alegria com algumas pessoas e mandei um torpedo:
"Prima noite na casa nova! Acabei de fazer o mate, Leonardo tá trocando fechadura da porta. Chegamos d tarde, fizemos rápida faxina. Instalados na casa mas dormiremos na barraca. Apesar dos mosquitos, estamos felizes e empolgados. Nada de chuva por enquanto, mas não ficaremos brabos se não tiver remada amanhã. Bjinhos! Nós"
Em seguida, algumas pessoas responderam.
Minha irmã, Rosane:
" Que beleza! Espero que os mosquitos não te levem embora... Aproveitem! Beijos!"
Mamazita:
" Que seja o início de uma vida muito feliz!"
Do amigo Clayton, sempre bem-humorado:
"Parabéns! Avisa pro Alemão deixar tudo limpo quando formos aí. Avisarei com antecedência p/ dar tempo de carnear o bode."
Clayton e Glovânia estiveram lá conosco, antes de comprarmos, quando estávamos na fase de namoro do local, e viram o morador do sítio na época, o bode Barnabééé, que teve um encontro, um tanto divertido, com o Clayton na ocasião.
Mas o Barnabé não ficou por lá, era do caseiro que o levou embora.
Mas o Barnabé não ficou por lá, era do caseiro que o levou embora.
Na verdade haviam outros moradores como a companheira do Barnabé, a cabra Gisele, que foi embora com ele, dois coelhos, que são da vizinha e andam por lá e um lagarto, que vi rapidamente, uma vez e nunca mais.
Desta vez, descobri outro morador, uma perereca, que fica dentro de casa, numa prateleira da sala, de onde ela não saiu, nem com toda a movimentação que proporcionamos.
Desta vez, descobri outro morador, uma perereca, que fica dentro de casa, numa prateleira da sala, de onde ela não saiu, nem com toda a movimentação que proporcionamos.
Ah, e tem os mosquitos, claro! Estes, não apareceram nenhuma vez, em todas as vezes que fomos lá, durante todo o verão em que ficamos namorando a área. Em compensação, desta vez eles foram e chamaram todas as famílias, amigos e etc!
Mas dormimos felizes na barraca e, como escrevi no torpedo, não ficaríamos chateados se, por acaso, amanhacesse chovendo e não saísse a remada, pois seríamos obrigados a ficar curtindo a casinha inabitável, com ou sem mosquitos.
Começo do dia no sítio, ou na área, ou no terreno, na casa...
O amigo da garça.
Caiu uma chuvinha durante a noite, mas o dia amanheceu nublado com um tímido sol tentando aparecer no meio das nuvens. Nada de chuva! Acho que terá remada. Lá fomos nós para a ponte velha do rio Tramandaí.
Saindo o sol em Maquiné.O amigo da garça.
Saímos de Maquiné com um pouco de sol e chegamos na ponte com tempo fechado. Fomos os primeiros a chegar. Sentei no trapiche para dar pão para os lambaris quando uma garça se aproximou. O proprietário do local chegou com um peixe e deu para a garça, na boca dela! Ele disse que ela vem todos os dias buscar um peixinho.
Os participantes foram chegando, bem mais gente do que eu esperava! O começo da remada estava se aproximando, lanchas de apoio chegando, caiaques para os participantes sem caiaques chegando em fila e o meu frio na barriga aumentando! Estava com medo de inaugurar o Clandestino. Eu, tão bem acostumada com o Quindim Precioso, um largo Turismo, que dá até pra dançar em cima, andando num caiaque oceânico...ai, meu pai!!!! Pra ajudar, o tempo fechando cada vez mais.
Caiaques chegando em fila.
Um gato com coleira, que se comportava como um cachorro.
O tempo foi fechando, fechando até que, bem na hora da saída, começou a cair uns pingos de chuva. Mas nada que amedrontasse os intrépidos remadores. Eu não estou incluída nesta turma de intrépidos. Tremia feito vara verde, um pouco de frio e muito de medo. Esperava o momento em que os organizadores dissessem "evento cancelado devido ao mau tempo", mas isso não aconteceu, todos entraram em seus caiaques e começaram a remar. Eu não tinha escapatória! Tive que fazer o mesmo. Entrei no lindo, limpinho, novinho Clandestino, mas não conseguia me equilibrar, ficava o tempo todo balançando. Não sei se era pela instabilidade do oceânico, ou eu que não parava de tremer. Tinha quase certeza que ia virar. Desencravei meus dedos do trapiche e dei as primeiras remadas. Nada do que eu fazia no Quindim, conseguia fazer no Clandestino, como olhar para trás virando o corpo. Mal mexia as pupilas e o caiaque balançava. Mas fui pegando o jeito, remando bem grudada na margem, mas remando. Senti que o Clandestino andava bem mais rápido que o Quindim. À medida em que fui pegando um pouco mais de segurança, a chuva foi aumentando e aumentou também o vento. Eu, Leonardo e Leonardo Maciel fomos os últimos a sair. A chuva e o vento foi aumentando e, aos poucos, fomos alcançando e passando o pessoal que saiu na nossa frente. As lanchas de apoio da Marinha, Bombeiros e Patrulha Ambiental passavam para cima e para baixo, a toda velocidade. Eu já estava azeda por estar remando naquelas condições e eles ainda vinham fazer mais ondas para a gente. Eu gesticulava para eles diminuirem a velocidade, mas parece que não entediam.
O vento e a chuva aumentaram de tal maneira, que tínhamos que remar abaixados e junto da margem. Não dava para olhar para frente, pois os pingos da chuva doíam no rosto. A impressão que dava é que dávamos duas remadas para frente e andávamos três para trás, de tanto vento. Percebi que as lanchas e o barco da organização começaram a resgatar alguns remadores que preferiam desistir. Nós três, o Márcio e o amigo no caiaque duplo, e mais alguns poucos remadores seguiram adiante. O resto todo, foi resgatado no meio do caminho. Confesso, que em alguns momentos da remada, foi o que desejei também, mas chegamos até o final, ou melhor, o final era para ser na barra da lagoa de Tramandaí mas, devido ao mau tempo e as ondas na lagoa de Tramandaí, sugeriram que parássemos num clube, um pouco antes da lagoa.
Depois desta aventura, descobrimos que foi um ciclone que havia passado por ali e em outras regiões do Rio Grande do Sul. Os jornais e tele-jornais de segunda-feira, mostravam, com destaque, os estragos causados pelo tal ciclone. O ciclone lá fora, fazendo estragos, e eu dentro d'água, "tranquiiila"...
Não tenho nenhuma foto da remada, pois não tinha como largar os remos para fotografar. E não vou considerar esta, a remada de inauguração do Clandestino, pois não deu para conhecer o caiaque nestas condições.
Não sei quantos caiaques começaram a remada, uns trinta talvez, mas não chegaram dez. Eu, Leonardo, Leonardo Maciel, Marcio e o amigo no duplo, e mais alguns gatos pingados, molhados, cansados e, pelo menos da minha parte, apavorados, finalizaram a Remada da bacia do Tramandaí.
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