No dia 23 de março eu e a bici Laranjinha pegamos uma carona com o meu pai na minha super-máquina, meu Uninho, e fomos ao encontro do Leonardo e do Clayton, que estavam pedalando desde domingo. Eles saíram de Canela, passaram por São Francisco de Paula e acamparam nas proximidades de Tainhas. No outro dia, desceram a serra do Faxinal até a Praia Grande, em SC, onde passaram a noite.
No terceiro dia de pedal deles, seguiram por uma estradinha em direção a Morrinhos do Sul e Lajeadinho passando "por trás" de Três Cachoeiras. Em algum lugar por ali, eu teria que achá-los. Fotos e relato dos três dias de pedal deles podem ser vistos no blog do Leonardo.
Eu e o pai saímos de casa, em Porto Alegre, na terça-feira, um pouco depois das 13h30. Pegamos a auto-estrada freeway até Osório seguindo pela BR 101 até Terra de Areia onde entramos numa estradinha que segue para Morrinhos do Sul e Lajeadinho. Ainda na freeway começamos a contornar as lagoas do nosso litoral, Lagoa dos Barros, Lagoa dos Quadros, Itapeva, um espetáculo à parte!
Antes de entrar na estradinha que leva a Morrinhos do Sul, o Leonardo havia feito uma ligação para o meu celular para avisar que estavam passando por Lajeadinho. Chegamos em Lajeadinho e paramos para pedir informações para confirmar o rumo que deveríamos tomar. O pai parou o carro e eu entrei numa lojinha que havia numa esquina, onde haviam três pessoas, um senhor e duas senhoras. Perguntei onde sairia a estradinha que estávamos prestes a pegar e responderam que ia para Rio do Terra. Perguntei se não iria para Itati, referência que o Leonardo havia dado e o senhor da loja respondeu, sem tirar os olhos do que estava fazendo, que até ia, mas não era aconselhável. Perguntei ainda, se havia passado dois ciclis... nem terminei de dizer "ciclistas" e os três balançaram a cabeça positivamente. Foi uma cena muito engraçada! A expressão dos três foi de quem respondeu "sim, passaram dois malucos por aqui."
Eu e o pai seguimos por ali, uma estradinha de chão batido rodeada de verde, muito verde e um rio correndo bem ao lado dela.
"Dois malucos" na estradinha!
O tempo estava bem fechado, chegamos a pegar uma chuvinha fraca ainda no asfalto. Onde encontramos os "dois malucos". Ainda estava claro, mas dava para ver que logo, logo a chuva nos alcançaria. O pai ficou empolgado com a estradinha e queria voltar pelo caminho que o senhor da lojinha não aconselhava. Ninguém sabia como era a estrada então, por via das dúvidas e bici Laranjinha pronta, o pai voltou pelo mesmo caminho, a BR 101 e freeway, e Leonardo, Clayton e eu seguimos em direção ao Poço das Andorinhas, onde planejávamos acampar no final do meu primeiro dia de pedal.
Eu estava um pouco nervosa, pois seria a minha segunda viagem de bicicleta. A minha
primeira viagem foi para Três Coroas, mas foi uma pedalada de um dia, pois voltei de carro para Porto Alegre. Esta seria a primeira vez que pedalava com alforjes, com peso na bicicleta. A primeira vez que acamparia viajando de bicicleta. A primeira vez que pedalaria um dia inteiro e teria que pedalar de novo no outro dia. Puxa, quanta coisa pela primeira vez! Ah, e também era a primeira vez que pedalava com a sapatilha que ganhei do Leonardo. Só havia usado ela dentro do pátio para treinar e esse treino não foi o suficiente, pois não tinha conseguido encaixar e desencaixar o pé do pedal. A prova disso aconteceu aos 3,5 Km pedalados. Numa lombinha fui colocar o pé no chão e desabei! Leonardo e Clayton estavam na frente e não viram, nem puderam registrar o feito, só ouviram o barulho e, quando olharam para trás, tava lá o corpo estendido no chão! Caí deitada com bici e tudo! Bati com o ombro no chão, mas não me machuquei, só fiquei empoeirada, pois o chão ainda estava seco. Levantei, sacudi a poeira, subi na bici e segui pedalando, mas sem encaixar a sapatilha no pedal, senão seria outro tombo na certa!
Com o tombo percebi outra "dificuldade": levantar uma bicicleta com alforjes cheios.
Foto do Leonardo.Foto do Leonardo Empurra-bike! Foto do Leonardo Foto do Leonardo Chegamos numa encruzilhada onde havia uma placa indicando para o Poço das Andorinhas à direita, após cruzar uma pontezinha. Acho que foi por ali que lembrei que não tinha almoçado ainda. Era tanta coisa para providenciar antes de sair de casa, tanta ansiedade que esqueci completamente de comer alguma coisa. O Clayton me deu uma barrinha de cereal para acalmar a Anaconda, minha lombriga de estimação.
Tiramos umas fotinhos na ponte e seguimos para o Poço. Em seguida começou a chover e eu senti o que teria pela frente. A estrada era de terra com muitas pedras e com a chuva, essas pedras ficam super escorregadias e para piorar, a sapatilha também era escorregadia. E eu não tinha levado nenhum tênis, só a sapatilha e um chinelo de dedo.
Logo no começo da pedalada, o Clayton me perguntou se eu já tinha pedalado com alforjes antes. Eu respondi que não e ele recomendou que eu tomasse cuidado porque podia acontecer da bicicleta empinar por causa do peso e foi o que aconteceu. Fiz um pouco mais de força numa subidinha e ela deu uma leve empinada, sem maiores consequências.
Fizemos umas fotinhos na ponte e seguimos viagem.
Foto do Leonardo Em seguida encontramos outra ponte e lembrei de uma foto que tirei com algumas amigas há alguns anos atrás. Na época, volta e meia quando o tempo não estava muito bom para praia, saíamos de carro pelas estradinhas do interior de Torres e Três Cachoeiras e nesta vez fomos até o Poço das Andorinhas. Pensei que aquela era a mesma ponte da foto com as gurias mas chegando em casa procurei a foto e vi que foi em outra ponte, no mesmo caminho, mas outra ponte. Que lembrança boa! Pedi que o Leonardo tirasse uma foto minha na ponte, como a que tirei com as gurias.
Foto do Leonardo Chuva.Chegamos ao Poço das Andorinhas com chuva e com pouca claridade, um pouco, por causa da chuva e outro pouco porque já estava entardecendo mesmo. Montamos as barracas e fomos conferir o poço. Já tava ficando friozinho mas o Leonardo, corajosamente, entrou na água mesmo assim. Eu fiquei só olhando. Clayton ficou na dúvida se entraria ou não e acabou decidindo por entrar. Pensei que ficaria mal se só eu não entrasse, onde estava a minha coragem? Tive que ser rápida, sem pensar muito me atirei na água antes mesmo do Clayton. Se eu ficasse pensando muito, acabaria decidindo por não experimentar aquela água gélida no cair da noite.
Banho noturno no Poço das Andorinhas. Foto do Leonardo Jantar. Foto do Leonardo. Foto do Leonardo Acordando. Café da manhã.Foto do Leonardo.
A chuva que caiu durante a noite, que não foi muito forte, deu uma trégua no começo do dia. Tomamos café, fiz o chimarrão e saímos para explorar o local. Uma escadaria leva ao outro poço, o Poço dos Morcegos. O lugar é muito bonito! Uma corda amarrada numa árvore, que deve servir de cipó para cair na água, indica que o local deve ser bastante frequentado no verão.
Poço dos Morcegos. Uma queda d'água forma uma piscina, o Poço dos Morcegos e a água segue descendo entre as pedras até formar outra queda d'água que forma outra piscina que é o Poço das Andorinhas. É muito lindo! Dá para caminhar um pouco pelas pedras, cuidando para não escorregar, ou pelas trilhas e escadarias no meio de muito verde.
Fiquei encantada com os brincos-de-princesa no meio da vegetação. Eu nunca tive muita sorte com essa planta, uma das minhas favoritas e que nunca duraram muito quando as tive em vasos e ali, no meio do mato ela estava linda, cheia de flores que caiam nas pedras.
Brinco-de-princesa.Depois de admirar o local e tomar chimarrão, desmontamos o acampamento para seguir a viagem. A chuva caía bem fraquinha de vez em quando, mas dava para perceber que essa condição climática mudaria.
Foto do Leonardo Foto do Leonardo Seguimos por uma estrada muito simpática com casinhas simples, muito verde e quase nenhum carro. Só passamos por um ônibus escolar saindo de uma casa. A estradinha que deveríamos seguir adiante mais parecia a entrada de uma propriedade de tão estreita, e com sinais de ser muito pouco utilizada com o mato crescendo nela e uma cabra ou bode amarrado no comecinho.
Era o comecinho da estrada e o começo de uma subida, um dos morros do nosso litoral, que me fez pensar em deixar o "ciclo" de lado e ficar só com o "turismo".
Um carro de boi apareceu no sentido contrário ao nosso, carregado de bananas. Um casal e um cachorro caminhavam ao lado do carro, o casal tímido, mas sorrindo um pouco e o cachorro bem assustado não quis saber de dar oi. Mais tarde entendi porquê o casal sorria. Na verdade, acho que eles estavam rindo mesmo. Eu não vi, mas o Leonardo havia caído quase na frente do carro, trancou o pé no clipe e foi-se ao chão.
Subida! Subida! Foto do Leonardo A subida não dava trégua e para ajudar, a chuva chegou em definitivo, fraca mas constante. O piso cheio de pedras estava como um sabão. O Clayton tomou a dianteira e o Leonardo não ia muito longe para me esperar. Subi pedalando no começo, empurrava a bici um pouco e voltava a pedalar. A subida chegou num ponto em que eu não conseguia mais voltar a pedalar no meio da lomba. O cansaço e o frio também chegaram.
Subida! Foto do Leonardo Empurra-bike...! Foto do Leonardo Subindo... Foto do Leonardo Subindo... Foto do Leonardo Empurra-bike... Foto do Leonardo Foto do Leonardo
Não sei se pedalei 20% do trajeto pelo morro, mas acredito que fiz um belo treino para a modalidade "empurra-bike". Pelo menos tive bastante tempo para pensar na vida e pude curtir a bela paisagem à minha volta. Além da chuva tivemos a companhia da cerração em parte do trajeto, o que proporcionou belas imagens.
Como o Clayton tomou a dianteira pedalando durante toda a subida, chegou bem antes da gente e, por isso, passou mais frio também, pois ficou um bom tempo parado, nos esperando lá em cima. Chegando no "lá em cima", achei que a situação melhoraria, que andaríamos no plano e não veria mais lombas. Não haviam lombas e sim, uma descida tão íngreme quanto a subida e nem sempre descer é mais fácil que subir. Descer por uma estradinha daquelas, cheia de pedrinhas com água correndo em alguns trechos, um convite para um belo tombo! Minha mão chegou a doer de tanto que apertava o freio e o Leonardo dizia para eu soltar, mas o meu medo de cair era maior. Sei que às vezes, devagar demais pode piorar o quadro mas não consegui descer mais rápido.
Mais uma vez, o Clayton chegou na frente e ficou esperando por mim e Leonardo. Os três chegaram famintos e com frio. Beliscamos algumas nozes e amendoins e seguimos em busca de um local para preparar o almoço pela estrada que liga Itati à cascata das Pedras Brancas,onde pretendíamos acampar no final do dia.
Cerração. Foto do Leonardo No topo do morro. Foto do LeonardoCuidando para não escorregar. Foto do Leonardo Foto: Leonardo Foto do Leonardo Muito barro pelo caminho... Foto do Leonardo
... frio... Foto do Leonardo...e fome! Foto do ClaytonBarro, frio e fome! Foto do Leonardo. Encontramos um lugar bem protegido, debaixo de um telhado que parecia uma garagem, na frente de uma Igreja e de um salão paroquial, e algumas casinhas na volta. Não se via pessoa alguma na rua, apenas galinhas e cavalos. Um que outro carro passava de vez em quando. Tiramos as comidas dos alforjes e preparamos nosso almoço quentinho. Por sorte, havia uma torneira do lado de fora do salão, que serviu para pegarmos água para preparar nossa comida e para o Leonardo tirar o excesso de barro da bici dele. Aos poucos foram chegando alguns pré-adolescentes e em seguida uma senhora, que depois de nos observarem um pouco desconfiados, entraram todos na Igreja, o que me fez concluir que foram para uma aula de catequese.
Foto do Leonardo Mais uma fotinho ( do Leonardo) para registro. No almoço conversamos sobre a dificuldade que foi subir o morro debaixo d'água ( que bom que não fui só eu quem sentiu dificuldade!) e começamos a achar que não daria tempo de subir a Rota do Sol no tempo previsto. Conversamos sobre as alternativas que tínhamos e uma delas era seguir para Rondinha onde estavam os pais do Leonardo. Achamos um orelhão e tentamos ligar para lá sem sucesso. Seguimos pedalando até que o meu celular deu sinal de vida e tocou. Era dona Sonja, mãe do Leonardo. Expliquei à ela que estávamos pensando o que fazer e perguntei se poderíamos ir para Rondinha. Ela disse que sim e fiquei de avisar o que faríamos.
Antes de pegarmos o asfalto paramos sobre uma ponte para fotografar e decidir o que fazer e resolvemos seguir rumo à Estrada do Mar, indo para Rondinha ao invés de subir a Serra do Pinto pela Rota do Sol, como era a ideia inicial.
Foto do Leonardo Avisando os pais do Leonardo pelo celular, que iríamos para Rondinha. Foto: Leonardo Foto do Leonardo Foto do Leonardo. Foto do Leonardo.Clayton e eu conferindo o mapa. Foto do Leonardo Foto do Leonardo.Foto do Leonardo.A pedalada pelo asfalto não apresentou nenhum problema. Só depois de cruzar a BR 101 foi que a chuva voltou. Começou de mansinho e foi aumentando à medida em que a noite foi chegando. Tava difícil para mim acompanhar os guris. Leonardo pedia que eu pedalasse no vácuo dele, mas não conseguia me manter sempre.
Para a nossa sorte, o sr. Egon, pai do Leonardo, foi ao nosso encontro, por livre e espontânea vontade e acabei pegando uma carona com ele, indo de carro até Rondinha, enquanto Clayton e Leonardo seguiam de bicicleta. A chuva não deu trégua no final da pedalada, cheguei enxarcada e fui direto para o chuveiro quentinho. Mal saí do banho e os guris chegaram. Fiquei chateada por não ter conseguido acompanhá-los, um pouco também, por não ter conseguido subir o morro pedalando, mas depois, conversando com os guris, percebi que a dificuldade não foi só minha e que, para a minha primeira "viagem" de bicicleta, até que não me saí tão mal. E apesar de todas as dificuldades que apareceram, não troco o cicloturismo pelo turismo. Viajar de bicicleta é bom demais e espero que essa tenha sido a primeira de várias. Obrigada Leonardo e Clayton pela força e paciência!
Laranjinha sob a BR 101.
Leonardo chegando no viaduto sobre a BR 101.Tempo fechando... Rumo à Estrada do Mar. No dia seguinte, Leonardo, Godofredo e Filomena na praia de Rondinha.
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