Em um dos e-mails trocados entre os participantes, Marcio alertou para que não esquecessemos o protetor solar, pois a previsão era de muito calor... Pior que era mesmo essa a previsão, mas numa dessas viradas de tempo inesperadas, o sábado começou com chuvinha fraca em Porto Alegre, de onde Leonardo e eu saímos bem cedinho para chegar em Osório às 7h.
Nos 100 km que separam Porto Alegre de Osório, o predomínio foi de muitas nuvens e chuvisco com algumas chuvinhas mais forte, de vez em quando. O sol bem que tentou aparecer, mas foi impedido pelas nuvens.
Logo na saída, no canal que liga as Lagoas do Peixoto e da Pinguela, o chuvisqueiro foi companhia constante, diminuindo um pouco no final e retornando com força total após uma breve parada, antes de entrarmos na Lagoa do Palmital.
Ainda na Lagoa do Peixoto, rumo ao canal.
Pingos durante a travessia pelo canal.
Do lado esquerdo, a Lagoa da Pinguela. Do lado direito, a Lagoa do Palmital.
Paramos na mesma ponta de areia onde havíamos parado quando passamos por ali em novembro e que, de certa forma "divide" as Lagoas da Pinguela e do Palmital. Com exceção do Leonardo Maciel, todos fizeram um lanchinho rápido. Leonardo e eu terminamos a melancia, que havíamos trazido, picada em um potinho de sorvete. Apressamos o pit-stop devido as nuvens ameaçadoras e os pingos grossos que começavam a cair.
Aqui, o grupo se separou. Leonardo e eu seguimos costeando a margem sul da Lagoa do Palmital, enquanto Leonardo Maciel procurou a costa oposta para se proteger do vento e encurtar o caminho, assim como Fabiano, Marcio e Otávio, que demoraram um pouco mais para voltar para a água.
Seguimos juntos a partir dali, mas não por muito tempo, pois em seguida voltei a perder contato, remando mais para a esquerda. Bem longe, na costa oposta, conseguia ver uns pontinhos remando, mas não consegui identificar quem era.
Depois de muitas ondas, chuva e vento, Leonardo e eu nos reencontramos novamente, minha lombriga, a Anaconda, vinha reclamando há algum tempinho então, fiz um rápido lanche dentro do caiaque mesmo (pão com mel, manteiga e chuva) e seguimos no meio dos juncos a procura do canal que liga a Lagoa das Malvas e a Lagoa dos Passos.
Marcio, entrou em contato com Leonardo através do rádio para avisar que nos esperariam no canal.
Após uma cansativa jornada no meio de uma floresta de juncos, finalmente encontramos o canal e os demais remadores, já em terra firme.
Seguindo a orientação do cardápio, na parada do almoço comemos os pastéis e o bolo de sobremesa.
Voltamos para a água sem chuva e o sol dando o ar da sua graça na forma de mormaço! O dia clareou, mas continuava carregado com nuvens pesadas.
Nosso destino era a Lagoa do Passo e a ponte da Estrada do Mar que passa sobre o Rio Tramandaí. Fiquei curiosa para saber o nome daquele canal por onde estávamos remando. Quase no fim dele, passamos por pescadores em um barquinho parado na margem e perguntei qual o nome daquele canal. O senhor mais velho respondeu "rio, riozinho", com um tom de "é óbvio!". "Não tem nome?", perguntei, e sacudiram a cabeça negativamente. Agradeci e segui o meu caminho pelo riozinho.
Em seguida, entramos na Lagoa do Passo e avistamos a ponte. O sol, clarão ou mormaço foi-se embora, o tempo estava se armando, "com unhas e dentes".
Leonardo e eu encostamos os caiaques numa rampa para esperar os colegas. Logo chegou Leonardo Maciel e os primeiros pingos de chuva. Fabiano, Marcio e Otávio, já debaixo d'água, chegaram em seguida.
A ideia original era acampar por ali, mas ninguém simpatizou com o local tomado por pescadores, carros, casas e um que outro bar, enfim, muito movimento.
Tínhamos quatro opções: 1 - acampar ali mesmo; 2 - dar a remada por encerrada, já que a chuva que vinha parecia vir para ficar; 3 - seguir a remada até encontrar um lugar para acampar e 4 - seguir remando até Tramandaí, já que era cedo, em torno de 15h.
Por unanimidade, decidimos seguir até Tramandaí e, se encontrassemos um lugar legal para acampar, acamparíamos.
Como estávamos remando "rio abaixo" e acho que, involuntariamente, o ritmo também estava um pouco forte para nos mantermos aquecidos, não demoramos para chegar na civilização. A quantidade de mansões de veraneio em Imbé era impressionante! Muitas delas estavam dando festas naquela hora, provavelmente, estavam imendando o almoço com o lanche da tarde. Todas as casas com seu pier particular e muitos jet-skis e lanchas desfilando e passando pertinho da gente, sem diminuir a velocidade e formando ondulações.
Aquilo foi me irritando de um jeito, que só pensava em desaparecer daquele ambiente.
Paramos numa margem com um belo campo, que estava a venda, do lado oposto aos casarões, mas bem pertinho, bem na frente deles. Conversamos se acamparíamos ali ou não. Leonardo Maciel já havia decidido ir embora, chamaria seu pai para buscá-lo.
Estávamos muito perto da civilização, o barulho e agitação das embarcações de luxo era muito desagradável e eu, já um tanto irritada com aquilo tudo, bati pé que não acamparia ali. Deixei clara a minha opção por seguirmos até Tramandaí e darmos por encerrada a remada.
Acho que os guris até acampariam por ali, mas com todos os argumentos que surgiram e a carona do pai do Leonardo Maciel para buscar os carros em Osório, decidiu-se seguir até Tramandaí e abortar a Remada Lacustre.
Chegando na Lagoa de Tramandaí a minha tensão diminuiu um pouco e passei a me impressionar com a cidade de Tramandaí. Uma cidade enorme, com prédios enormes e tão movimentada quanto Porto Alegre. Há muito tempo que eu não passava lá. Como as pessoas conseguem descansar ali?
Quando estava chegando com o caiaque fui recepcionada por um simpático cachorrinho que brincava com todos e não era de ninguém, apesar da coleira no pescoço. Imagino que ele deva morar perto, pois não parecia perdido.
Otávio e eu conversamos bastante, eu fiquei observando as garças tentando roubar um pedaço de peixe ou camarão recém pescados nos baldes dos pescadores e torcendo para que elas conseguissem. O cachorrinho simpático se transformou num guardião e não deixou que elas sequer pousassem na areia, correndo de um lado ao outro cada vez que uma delas tentava chegar perto. Também observei as pessoas, aquele monte de gente pendurada na ponte, um congestionamento de anzóis, ou na beira da praia com anzóis e redes, tentando pegar as pobres sardinhas ou camarões. Mas o que mais vinha nas redes eram os sirizinhos, que ficavam presos e tinham que correr por entre vários pés humanos para chegar até a água novamente. Isso quando não eram ajudados com um chute ou alguém aprendendo a agarrá-los, demonstrando coragem e agilidade pegando-os por trás para que as garras dos siris não pegassem seus dedos.
Outra coisa que fiquei matutando nos meus momentos de espera, foi o movimento em Imbé e Tramandaí. Congestionamento de carros e pessoas, já que para andar nas calçadas deve-se desviar umas das outras. Concluí que as filas e congestionamentos também tiram férias e vão para a praia.
Dá para ter uma ideia do tanto de tempo que tive para filosofar, né?
Quando, finalmente eles chegaram, a primeira coisa que perguntaram foi: "demoramos?". Eu respondi que para nós, Otávio e eu, pareceu uma eternidade! Bem que o Leonardo perguntou se eu não queria buscar o carro, mas preferi ficar ali observando os animais humanos e não-humanos. Até um cochilo eu consegui tirar.
Arrumamos os caiaques em cima dos carros e cada um seguiu o seu destino. Marcio e Otávio seguiram para Osório. Fabiano foi para a praia de Santa Terezinha onde estavam a esposa e filhas e Leonardo e eu fomos para a praia de Rondinha, na casa dos pais dele. Todos cansados, molhados, um pouco frustrados pelo acampamento não ter acontecido, mas acredito, que todos satisfeitos com mais um belo dia de remada. Belo, não no sentido de ser um lindo dia de sol, mas foi uma bela remada, com velhos e novos companheiros e se não fosse a chuva, dificilmente teríamos conseguido remar os 45 Km marcados no GPS do Leonardo.