Na passagem de ano, Leonardo e eu resolvemos ficar longe dos foguetórios, missão difícil hoje em dia, já que ano novo e Natal viraram sinônimo de fogos de artíficio e a perigosa e proibida brincadeira começa horas antes da meia-noite. Aliás, por quê razão soltam foguetes na passagem do dias 24 e 25 de dezembro também? Não é a zero hora do dia primeiro de janeiro que se comemora? Ah, esqueci que Natal sem presentes e sem foguetes, não tem graça... que absurdo!
Bom, o lugar escolhido foi Tapes, "a namorada da lagoa", município gaúcho distante 103 Km da capital Porto Alegre e banhado pela Lagoa dos Patos. Para chegar até Tapes pegamos a BR116 e precisamos pagar dois pedágios nos valores de R$ 7,50 e R$ 6,00. Outro absurdo!
Chegando em Tapes fomos almoçar e seguimos a procura de uma camping para deixarmos o carro e termos acesso à lagoa. Achamos um em seguida, que mais parecia uma vila, pois barraca é o que menos se via no meio das várias tendas feitas de madeira e plástico. Acredito que essas tendas sejam utilizadas como casas de veraneio mediante um aluguel porque elas são equipadas com fogão, eletrodomésticos e muitas tem até jardim na frente, só falat muros entre elas.
Bom, o importante é que conseguimos deixar o carro lá e era uma posição boa para a saída em direção ao Pontal de Tapes.
Bom, o importante é que conseguimos deixar o carro lá e era uma posição boa para a saída em direção ao Pontal de Tapes.
Caiaques prontos para a partida.
Menina brincando na areia do camping.
Menina brincando na areia do camping.
Caiaques prontos, tratamos de começar a travessia logo, pois as ondas e o vento indicavam que não seria nada fácil. Eu, que morro de medo de ondas, comecei a rezar assim que dei as primeiras remadas. Não sigo nenhuma religião, mas talvez por ter tido uma formação católica, sempre começo a rezar em momentos de quase desespero. Rezei o Pai Nosso, a Ave Maria, O Credo, rezei até para os anjos, aquelas orações que aprendi na pré-escola: "Anjinho da Guarda, meu bom amiguinho, me leve sempre ao bom caminho!" O bom caminho era chegar sã e salva do outro lado da lagoa. Rezava e remava, rezava e remava!
O Leonardo seguia na frente e eu tentava me manter bem atrás do Ilegal, mas não conseguia manter o Quindim numa linha reta. Em condições normais o Quindim, ou eu, já apresentamos problemas de geometria, com ondas e vento então, foi bem difícil manter uma direção.
Eu tentava me manter calma para não atrapalhar o Leonardo, cujo caiaque é bem mais instável, e lembrava muito do livro que ganhei dele e que estava lendo: "Uma mulher, um caiaque e o oceano", de Simone Miranda Duarte, onde ela conta a travessia feita por ela num caiaque oceânico, do Rio de Janeiro até Santos, há 20 anos atrás quando não tinha celular, GPS, nem sacos estanques! Ela guardou tudo em sacos de lixo! Voltando para a minha travessia, lembrava quando ela contava que nessas condições era difícil manter o rumo do caiaque e imprimir um ritmo constante. Era preciso negociar com as ondas mais audaciosas. Lembrava das narrativas dela e me confortava pensando que não era só eu que sentia dificuldades.
Foi assim, rezando e lembrando do livro que consegui enfrentar as ondas e o vento e chegar do outro lado do Saco de Tapes.
Chegamos do outro lado.
Quindim ou banana????
Quindim ou banana????
Chegando no outro lado desembarcamos dos caiaques numa bela prainha de areias brancas. A decepção ficou por conta da vegetação, o Pontal de Tapes está tomado de pinus, praticamente nada de vegetação nativa! Após um rápido lanche (bananas), caminhamos um pouco pela prainha, fotografamos mais um pouco e seguimos remando pela costa, protegidos do vento e das ondas.
Pinus, pinus e mais pinus...
Durante a travessia, Leonardo comentou sobre um pontinho branco que víamos de longe e que ele achou se tratar de uma prainha. Descobrimos que o tal pontinho era uma das embarcações atracadas num tipo de acampamento, um ponto de encontro de pescadores e navegadores. Mais adiante encontramos o nosso acampamento! Leonardo entrou no meio dos juncos para conferir o local, pois ali acabava a plantação de pinus e depois o Pontal se transformaria numa extensa faixa de areia. Desci também e me surpreendi com o que vi: do alto de um cômoro de areia podemos avistar os dois lados da Lagoa dos Patos, pois ali é a parte mais estreita do Pontal. E o mais impressionante é a diferença das águas, de um lado, o lado que viemos, águas calmas, quase sem vento e do outro lado, a mesma lagoa dos Patos parecia um mar aberto com muitas ondas e um vento de arrepiar até o último fio de cabelo!
Com toda aquela beleza e mais uma cabaninha com mesinhas e bancos para ajudar, resolvemos acampar ali mesmo.
Leonardo, ainda com a saia de vedação, admirando o outro lado da lagoa.
A lagoa que parece um mar.
Pontal a perder de vista.
Pinus, pinus e mais pinus.
A lagoa e os pinus.
Depois de fotografar aquele encantador pedaço de terra, puxamos os caiaques para perto da cabana, montamos a barraca sob a proteção dos pobres pinus e tratamos de pegar água para preparar a janta e tomar um banho na lagoa. Após o banho, tirei o vestido amarelo que ganhei da minha tia Zélia, com a recomendação de usá-lo duranto o dia 31 e vesti o vestido branco que ganhei da mesma tia, com a recomendação de usá-lo na virada do ano. Por sorte, os vestidos vieram a calhar, pois o amarelo é curtinho, leve e bem fresquinho, ótimo para colocar por cima do biquini e o branco, apesar de ficar me sentindo uma mãe de santo com ele, também veio a calhar, pois é comprido e me protegeu do frio e dos mosquitos. Obrigada tia! Segui as recomendações bem direitinho!
Os caiaques no meio dos juncos.
Leonardo puxando o Ilegal para o acampamento.
Sapinho no acampamento.
Acampamento montado com varal e tudo!
Fim de tarde, fim do dia, fim do ano!
A janta foi um banquete: arroz, lentilha, palmito, milho e chocotone de sobremesa! Um espetáculo! Sempre lembrei com carinho da lentilha que a minha mãe preparou num acampamento que fizemos quando eu e meus irmãos éramos pequenos. O pai levava a casa junto nos acampamentos. Ele tinha uma variant na época e mais um reboque enorme para carregar tudo o que precisávamos e mais um pouco para deixar o acampamento mais confortável. Naquele ano, acho que o único ano em que acampamos na virada de ano, a mãe levou as taças no colo, durante toda a viagem de Porto Alegre até Araranguá, em Santa Catarina, com todo o cuidado para não quebrar e podermos brindar a meia-noite. Fiquei orgulhosa de mim por também ter preparado lentilha num acampamento, já que sou "pouca-prática" em acampamentos.
Lentilha no fogo, barriga vazia!
Não esperamos a meia-noite para comer a lentilha. Aliás, mal esperamos a meia-noite acordados. Jantamos, comemos a sobremesa e deitamos na areia, quer dizer, o Leonardo deitou na areia e eu fiquei em pé, do lado porque tenho uma certa aflição de ficar com areia pelo corpo Fresquinha eu, né?! Fazer o quê? A mãe diz que desde pequeninha sou assim, ando na areia me limpando, tirando a areia do corpo. Voltando para a areia, ficamos ali olhando as estrelas. O Leonardo viu uma estrela cadente e vários satélites, que também consegui ver. Olhar as estrelas, que ficam tão iluminadas longe das luzes da cidade é um espetáculo à parte! Ficamos um bom tempo ali, olhando as estrelas e jogando conversa fora até que o sono chegou e resolvi deitar. Fui arrumar a "cozinha", guardar as coisas e acabamos comendo mais chocotone. Fui limpar a colher da lentilha que sobrou e percebi que ela ainda estava quentinha. Acabamos comendo todo o restinho de lentilha, logo depois de comermos chocotone! E tava boa aquela lentilha!
Em seguida chegou a meia-noite e olhamos os fogos de longe, só aquelas luzinhas pulando e explodindo no céu. Nenhum barulhinho além do vento e da lagoa-mar. Fiquei pensando nos meus cachorros, tadinhos! Pena que não tinha como trazer todos os 32 junto. Alguns não se afetam, mas alguns ficam apavorados com o foguetório. O meu consolo é que eles estavam seguros em suas casinhas e canis, mas ficava pensando também nos tantos animais que sofrem com os fogos de artifício. O pavor é tanto que acabam fugindo, pulando muros altos, que nem eles sabiam que podiam pular. Alguns chegam a morrer do coração, tamanho o stress que esse barulho causa a eles. Os fogos de artifício podem ter a sua beleza, mas por mim eles não precisavam existir. O que importa é estarmos com as pessoas que a gente ama e não o barulho que fazemos. O ano novo se transformou numa competição para ver quem faz mais barulho e é difícil fugir dele. Eu e o Leonardo conseguimos!
Duca_____!
ResponderExcluirBoa
ResponderExcluirMacarini, amigo de infância me passou o link. Belo passeio de vcs. Também curto esta lagoa e gosto de fotografá-la. Tem algumas navegadas nestes links (várias páginas):
http://www.conjuminando.com.br/navegadas_pela_lagoa5
e
http://www.conjuminando.com.br/sobre_lagoa7
Valeu, Miguel