domingo, 12 de julho de 2015

Um café com a família e com o Alzheimer


 Semana passada, no tradicional passeio a Torres com os sogros, Leonardo conseguiu nos acompanhar, pois estava de folga no trabalho. 
Almoçamos no mesmo lugar de sempre, mas desta vez, depois de algumas voltas pelo comércio, encerramos nossa passagem pela cidade tomando um café ou, no meu caso, apenas comendo uma fatia de torta.
 O sogro é uma formiga, adora qualquer doce e com a doença, parece que ficou mais guloso ainda. Aliás, o Alzheimer do sogro tem provocado cenas muito curiosas e, por que não dizer, engraçadas.
Duas destas cenas aconteceram na hora da sobremesas. A primeira aconteceu dias desses, almoçando no mesmo restaurante que eles costumam almoçar todos os dias, na praia de Rondinha, onde o sogro sabe que é uma sobremesa por pessoa, mas no meio do almoço, com o prato cheio de comida ainda, ele levantou e foi buscar uma sobremesa. A sogra ficou xingando, dizendo que não precisava pegar ainda, mas ele foi mesmo assim. 
Nós achamos que ele queria garantir a sobremesa que gosta, mas para a nossa surpresa, de repente, ele começou a comer a sobremesa. Nada de mais, né? Só que ainda tinha comida no prato. Comeu todo o pratinho de sobremesas e voltou a comer a comida naturalmente. Tudo bem! Nos olhamos como quem diz "fazer o quê, né? Deixa assim!" 
Mais umas garfadas na comida, o prato quase vazio e ele levanta novamente, vai até a mesa de sobremesas e pega outro pratinho. E mais: come todo o segundo pratinho de sobremesa e só depois do pratinho bem raspadinho, termina com o bife que ainda tinha no prato.
 A segunda cena foi na sobremesa deste dia, quando fomos a Torres e almoçamos no mesmo restaurante que sempre almoçamos quando vamos até lá, e que ele também já sabe que é uma sobremesa por pessoa. Neste restaurante, a gente tem que pedir a sobremesa para um atendente. Como sempre faço, relacionei todos os doces que haviam para que ele escolhesse um e não é que ele responde: "pudim e mousse". E para a minha surpresa, o atendente deu as duas para ele.
Eu achava que sabia um pouco sobre Alzheimer, pois a mãe e o ex-marido de uma amiga tiveram e ela me contava coisas que eles aprontavam, que me deixavam incrédula. Também li o excelente livro "Quem, eu?", de um neto contando sobre a convivência com a vó e o Alzheimer que a acompanhou nos últimos anos de vida.
Mas por mais que se ouça e que se leia sobre o assunto, acho que sempre vamos nos surpreender vendo uma pessoa tão próxima  e tão querida da gente, cometendo estas "gafes" como se fossem a coisa mais natural do mundo.
Fazer, o que?

Tombinho ficou no carro enquanto tomávamos café. Querido!
Depois do café, sogros caminham de mão dadas pela calçada. Os sogros e o Alzheimer...

5 comentários:

  1. Encontrei seu blog e é uma honra estar a ver e ler o que escreveu, quero felicitar-vos, pois é um bom blog, sei que irá sempre fazer o melhor, dando-nos boas noticias, e bons temas.
    Quero aproveitar a oportunidade para partilhar o meu blog : Peregrino E Servo.
    Vou ficar muito feliz se tiver a gentileza de fazer uma visita ao meu blog.
    PS. Se seguir, fique a saber que irei seguir também seu blog, se o conseguir encontrar.
    António Batalha.

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  2. Ah, Tiane, querida!!

    Meu paizinho partiu com essa doença. Foram 5 anos que ela avançou, avançou...até que o levou....

    Ela tem muitas fases...a gulodice dele deve ser aquela fase em que eles comem, comem e não se sentem saciados...não lembram que comeram.

    Tiane, ele precisa de toda atenção e paciência da família, inclusive a família também deve ter ajuda de enfermeira, cuidadora, atendimento psicológico...etc...é um desgaste muito grande para quem está bem pertinho.

    Para nós a pior fase foi quando paizinho se tornou agressivo querendo matar minha "mãe" e um bendito "amante" que ele "via" andar pela casa...foi difícil, pois tudo virava uma arma nas mãos dele.

    Ele só obedecia a mim...várias vezes eu tive que deixar o trabalho para vir acalmá-lo pois ele queria matar os "dois" traidores.

    Hoje nós rimos do que passamos, minha mamys tadinha sofreu muito, muito, porém...a fase passou ...veio a total passividade...e por ai foi...até ficar rígido , na mamadeira, fraldas, sem falar...

    Sabe, vai fazer dois anos que ele partiu...e eu sou tão egoísta...queria tê-lo ainda aqui, mesmo trocando fraldas, dando banho, cantando para ele, dando mamadeira, fazendo exercícios diários...ah, como eu queria...como dói a saudade...como dói...

    Deus que dê muito força e amor a vocês!!

    E Tombinho tão comportadinho e lindo!!

    beijinhos, querida tenha um dia bem bonito!

    Lígia e =^.^=

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  3. Pois é, Tiane, tenho um conhecido que anda manifestando sintomas (não sei se quem vive com ele percebe ou não quer perceber). Sempre pensando no positivo a gente tem que remarcar que os dois apoiam um ao outro, né? E tem a família por perto. Abração!

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  4. Que ternura... Uma lição comovente.

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  5. lindo texto que nos traz uma reflexão sobre a vida e nossos momentos, sempre comento em casa que sou tão esquecida que temo um dia ter esse "alemão" a minha volta... mas que bom pro seu sogro que ele tem esse carinho de vcs...
    bjs

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